terça-feira, 22 de setembro de 2015

"Carta a Marcos Tenorio" por Vaz Craveiro.



"De regresso da Moita do Ribatejo, onde tive ensejo de o rever, entendi dirigir-lhe esta missiva, directamente relacionada com a prestação levada a cabo na “Daniel do Nascimento “. Impõe-se, liminarmente, evidenciar que estava em causa uma corrida de grande responsabilidade.  Desde logo, naquela localidade e arredores respira-se afición quanto baste, região de aficionados de solera, para quem o toiro e o cavalo não têm segredos. Depois, porque o curro a lidar era dos herdeiros do Dr. António Silva, matéria-prima que fez as delícias da minha juventude pela seriedade evidenciada, impondo respeito nas arenas a cavaleiros, seus auxiliares e moços de forcado e cujas características estão presentes nas camadas disponibilizadas ano após ano, responsáveis primeiras pela comparência de quem, de outra forma, dificilmente se deslocaria, pela inexistência de afinidades de qualquer ordem com os demais intervenientes. Pois o Marcos Tenório, prestes a terminar uma temporada em que foram muitos e bons os triunfos arrecadados, na linha, de resto, do que ocorrera no ano anterior, em que ia embalado na altura do acidente que lhe interrompeu a curva ascendente que caracterizava então a sua trajectória, chegou à corrida do fogareiro com as ganas habituais, totalmente disposto a discutir com os seus pares quem saía da praça em plano vitorioso. Não podemos tomar posição em tal matéria porque se não viu o espectáculo até final. Ainda assim, refiro gostosamente quanto saboreei ver o DANONE dobrar-se uma vez mais com o oponente, em alarde de domínio e preparação, para, de seguida, serem cravados dois certeiros ferros compridos. No trânsito para os curtos, o Marcos sacou o AMOROSO, que lhe proporcionou brega de elevado nível, a anteceder a ferragem da ordem, sempre conformemente às regras. Cumprida que assim se mostrava a função, por imperativos de toreria, em nome do muito respeito que em Vossa Casa existe para com o público, procedeu a nova troca de montadas, indo buscar o ELLORA, da coudelaria de sua Mãe, para, plenamente sintonizado com a assistência, a quem, aliás, deu a possibilidade de escolha, cravar um par de bandarilhas nos médios, onde tudo pesa pelo máximo, no meio de indescritível entusiasmo popular. Não admira assim que haja quem o siga amiúde, indiferente a distâncias, doenças, preço dos combustíveis, custo de refeições e auto-estradas e à circunstância de as touradas serem diurnas ou nocturnas, sendo que em tal legião gostosamente me incluo. Aqui tem o jovem toureiro o que se me ofereceu dizer depois do que vi na última vez em que nos cruzámos, restando o Campo Pequeno para uma apreciação final, com a antecipada expectativa de que lhe seja possível colocar a cereja em cima do bolo comemorativo das genuínas actuações que logrou ao longo de 2015.
VAZ CRAVEIRO."